agosto 19, 2008

Aparências.

Quem diz que não vive de aparência é mentiroso ou ingênuo. Não estou falando, claro, de fingir ter o que não tem ou ser quem não é, estou falando justamente o contrário.
Tem dias, que às vezes se estendem por semanas, que simplesmente não queremos sair de casa. Não é depressão, síndrome do pânico ou nada do tipo, é o simples desânimo, a falta de vontade de ver os outros, de aparentar estar tudo normal pela certeza que ninguém vai te entender. Fazemos isso sempre.
Normalmente nem notamos, mas há dias que não tem como. De longe, pela postura ou pelo olhar até quem não é próximo nota que há algo errado. Não existe máscara que esconda. Nessas horas temos que nos fechar, dizer que há sim algo errado e que isso não interessa ninguém.
Hoje é um dia que eu invejo que pode não trabalhar. Queria ficar em casa, sozinho por um mês. Não posso, então tenho que fingir que não há nada tão errado, que não há um buraco no mundo.

agosto 06, 2008

Fantasmas.

Existem algumas coisas que escondemos tão fundo que esquecemos delas, que parece que foram apagadas, como se nunca tivessem existido. Certas sensações desconfortáveis que prometemos nunca mais ter e, por não tê-las há muito tempo, esquecemos da promessa e baixamos a guarda.
Isso é imperdoavel e o castigo aparece sem demora.
Primeiro passamos por algo leve, um encontro, uma lembrança ou até uma brincadeira de gosto duvidoso. Passa despercebida, não desperta nada de ruim. Esquecemos uma vez mais de nós mesmos, do que escondemos e que nos machuca.
De repente vem o golpe. Único. Certeiro. Mortal. Tudo aquilo que estava esquecido, apagado como se nunca tivesse existido volta de uma vez só, a incredulidade ou a credulidade, o saber o que fazer e o não querer fazer, a pergunta certa e o medo da sinceridade da resposta. As dúvidas e indecisões. O olhar para frente e não ver caminho nenhum. E saber que tem a fazer uma escolha definitiva, uma aposta única, ou tudo ou nada.
Uma vez resolvido e superado, enterramos e esquecemos. Aí, um dia, volta uma vez mais, sempre mais forte, sempre quando menos esperamos. Um ciclo doentio e initerrupto, mais cedo ou mais tarde estamos sempre no mesmo lugar.
Nunca aprenderemos.